21/12/08

Viena rutila de forca, num pequeno universo de formas gigantescas e sólidas, inatacáveis. Com cerca de dois milhöes de habitantes, Viena cresce e resplandece à velocidade dos meus pés na transposicäo de uma praca que parece näo acabar, no percorrer das margens do Danúbio, no alargar da vista, grande angular, perante as ruas do seu centro repletas de gente e eléctricos encarnados, reencarnados do tempo da guerra. Atravessam-se épocas doiradas nos muitos quilómetros que a cidade oferece ao "andante" curioso. Curioso e extasiado. A boca näo se me fecha. Näo consegue. Os olhos näo se distraem. Contraem-se acometidos por uma fome desenfreada de mais pormenores.
A biblioteca que guarda as costas à praca onde nasce a Rathaus lembra-me o Mosteiro dos Jerónimos em Belém. A grandeza das formas e o requinte nu dos contornos fazem-se corar a si próprios minuto a minuto, segundo a segundo. Näo vislumbro indícios de fealdade ou abandono. Nem de pobreza, material ou de espírito. Ao cruzar os inúmeros mercados de rua, ajuntamentos de passagem obrigatória na quadra natalícia, semeados em todas as pracas, com uma chávena de ponche quente de macä (delicioso e sobretudo quente!), encontro um convívio urbano salutar e convidativo. Como se ao dobrar de cada esquina um grupo de Vienenses cantasse "Traz um amigo também" do José Afonso. Aqui, näo sinto falta da máquina das fotografias. Tenho a nítida consciência que me é impossível captar a grandeza do espaco através da minha objectiva. Näo me atreveria a tentar.
A Rathaus - Câmara Municipal - transgride todas as normas conhecidas do semblante comum que um edifício desta natureza deve ostentar. Mais uma vez evoco os Jerónimos. Aqui, porém, quem cora säo os Jerónimos. Näo de vergonha mas de simplicidade, ainda um menino edifício a crescer.
A roda gigante que espreita Viena em todas as direccöes reveste-se de um romantismo nostálgico que se perde na distancia do olhar. Viena mostra-se como é, sem enfeites ou máscaras, no rodar lento e inebriante da sua roda gigante no Pratter. Lembra-me a vista do cimo da Sagrada Família em Barcelona. Com uma mäo seguramos o corrimäo, com a outra... ... a emocäo.
Atravessei horas, passo após passo, com os olhos arregalados e só me cansei já eram oito horas da noite. E cansei-me verdadeiramente! Apetecia-me dormir, esperar pelo mais que viria no dia seguinte. Näo fosse o facto de dar ouvidos ao meu estômago totalmente esquecido e desprezado e ter-me-ia arrastado imediatamente para o meu beliche.

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