30/07/08

Muro

Um muro, um olhar de surpresa,
uma garganta que seca,
olho aberto, focagem demorada,
e a posição de gato que tem medo da facada,
forte e vulnerável mas seguro na defesa.
As cordialidades à porta, enfim os obrigadas,
secos, navalhadas, cereja das coisas sem importância.
Das novidades não se fazem histórias,
abreviadas a um tudo-nada e restos de memórias...
Uma mentira suave aqui, uma indiferença que queima ali,
um estar que não se compadece com a zanga
que se reconhece,
o resigno-me, o canso-me, o esperar que não aparece
entre sorrisos alugados
ao à-vontade dos ex-amados,
e sem demora a anuência,
o assentimento, a desistência
ao prometer intransponível,
ao que está em ser que morre...,
que não sei ter sido algum dia disponível
e a despedida cirúrgica por conta de coisas antigas,
assim, aparentemente, como coisas sem importância...

BERRO ÀS DUAS

A INSUPORTÁVEL SURPRESA...
REPENTINAMENTE O FASCISMO AMEDRONTA-SE.
A ORDEM NATURAL DEBAIXO DE UMA PEDRA
NÃO HÁ DIRIGISMO, NÃO HÁ DEDOS QUE APONTAM,
NÃO HÁ CORES PRÉDEFINIDAS NEM VIDAS DA REGRA,
O ESPAÇO NÃO TEM OLHOS, O FIM É DE QUEM VIVE,
O CAMELO QUE FECHA OS OLHOS NÃO É PULSO, CABRÃO, NÃO É LIVRE!

AS PAREDES QUE NOS ENCOLHEM SÃO FEITAS DE PAPEL DE ARROZ...

NÃO SÃO PRÓPRIAS, SÃO ENGANOS,
OÁSIS E TIRANOS,
HERDADAS POR QUEM AS LÁ PÔS,
E O SENTIDO..? - QUE SE ADULTERA!... E A RAIVA
MAGNAGIGANTÍSSIMA CRATERA,
SURPREENDE-TE ANÃO, ABRE A TUA MÃO,
FOGE MEDO DE TI, FOGE-TE VAZIO,
ENGRENA E SANGRA DANADO CORROPIO,
SOLTA O AI QUE TE VIOLA DESDE OS TEMPOS DA TUA ESCOLA
SOLTA O MEIO, SOLTA O AGORA, LIVRA-TE DO AGRAFO,
EU CORRO COM OS MEUS OLHOS
E AS ENTRANHAS DE FORA,
QUE NOJO O MEU MUNDO ADORA,
E BERRO, EU AMASSO, EU PERTENÇO AO QUE FAÇO,
E NADA, MAIS NADA NEM NENHUM
ME PRIVARÁ DE MORDER NEM
ME CALARÁ DE TE VIVER
POETA, CARALHO, PUM!!!!

24/07/08

CLICK!!!

Agarro-me ao que me levanta o olhar,
nessa dança egoísta e impaciente
dos corpos que não se entregam.
Aventure-se no caminho
o sol dos duros lá da rua
e as sombras incólumes e anónimas
que pensam conseguir usar.
O sorriso desconfiado
do velho no banco de jardim,
às quatro da tarde, hora de calor,
imposto por um aceno intrusivo,
demasiado adentro para o habitual,
e a fotografia à espera.
A carapaça não salta, segura-se à espreita,
enquanto o cigarro vai queimando de mansinho
cúmplice da trama que vai sendo feita
estende-se a rede devagarinho,
e a fotografia à espera.
Enganam-se os minutos com frivolidades
e desatenção
no banco oposto ao meu fetiche sufocado.
O peixe ri, eu rio,
o peixe olha, eu desvio,
santo deus, que loucura, desvario,
e a fotografia à espera...
Da coragem para investir e perguntar
vão seis metros de passo largo
e assertividade no andar!...
Qual sorriso, qual simpatia,
é uma montanha sem empatia,
uma parede de ferro e de betão
e eu de cócoras e entravado
enquanto m’atiram um rotundo não!
E a fotografia que desespera...
Agradecido por cortesia,
educada e atempadamente,
afasto-me nariz baixo no Rossio.
Não sou capaz!
A comichão aperta cem metros à frente
e, embalado na minha tentação,
arranco sem pudor e volto para trás.
Eis-me, suspeito, escondido por uma trave,
Criminoso sem respeito,
Fuínha dos piores, sem covil nem irmandade.
Haja quem me denuncie,
aqui de joelhos,
e aos céus brade!
Mas o plano congemina-se ao estado de perfeição,
gélido e glorioso, a expressão à disposição;
o feitiço finda-se e assassina de vez esta tensão...
CLICK!!!
E a fotografia que saiu bera...!

23/07/08

o plano...

A exigência do plano,
urgente e absolutamente conflituoso,
não faz esquecer que sempre existiram
cantos escuros e ângulos agudos
na minha pista de dança.
Suponho que o plano,
ausente em consciência
falha por episódica demência,
fugindo à sua orientação natural
- daquilo que é plano –,
que caminha a direito e por direito,
algo confuso entre o correcto
e a falta anunciada do verdadeiro afecto.
Na indecisão oblíqua
entre esquerdas e direitas
o plano regozija-se por ser assumido por defeito.
Estranha calma esta
de querer “planar” mais alto...

O que for...

Sinto-me, por vezes,
demasiado sozinho...
Talvez não por falha
ou incumprimento,
talvez por falta
ou má-sorte no envolvimento, no comprometimento,
mas, acima de tudo,
porque acredito nesta história de sonhos
a que me entrego
nesse sorriso que me rasga
ao som de uma melodia,
que me puxa e envolve
ao ponto do corpo se esquecer de inspirar,
dos dedos tremerem
e tudo o resto à volta parar,
acredito que,
tal como a caneta vive nas minhas mãos
quando a solto para sentir
também o propósito das coisas se arriba
e afirma
nas situações que nascem todos os dias...
Sou dubiamente empurrado a acreditar
que as decisões são o peso fulcral e terminante
desta balança em que vivemos,
provavelmente fiel ao silêncio de algo mais forte,
antigo livro de regras omnipresente,
que nunca nos avisa do acerto das escolhas,
quando, no fundo,
é na solidão do meu quarto que descubro que
os caminhos desenhados podem sempre ser lapidados
pelos acasos que nos assaltam.
...e os propósitos do amanhã,
fiéis à curiosidade dos porquês
e ao meu querido sobressalto
saberão ser o que forem...

22/07/08

Na praça dos encontros

O conforto que se encontra no tratar das situações
do agora e da vida concêntrica,
das teorias dos conjuntos e das melodias privadas,
do imposto comum exorbitante da coisologia e da musicologia,
pelos nomes arbitrários e verdadeiros,
à luz própria de cada cabeça,
íntimos ao linguajar que conhecemos desde sempre e
ao batimento percussionista que vem de dentro
é apenas..., e apenas às vezes, comparável
ao sucesso tão imprevisto quanto desejado
que se nos afigura, em sobressalto,
na presença de outro ser, outro alguém,
diferente em espaço e em consciência,
que as compreende sem demoras hesitantes
e as devolve à sua, também única, maneira.
A composição de dois solos
implica, como é sabido,
uma orquestra afinada e um maestro sagaz.
Eliminemos, pois, deste cenário
o dois e o seu amigo necessário – o maestro que não satisfaz.
Remanesce uma orla musical, fabricada internamente,
construída ao nível do órgão bruto e da percepção quase carnal,
um solo conjunto, confuso aos estrangeiros,
um princípio de comunicação avesso
forjado em sociedade secreta e íntimo ao saber
de quem fala a mesma língua.

21/07/08

A história de Veronika e Edouard - In "Veronika decide morrer" de Paulo Coelho

Na fronteira dos meus sentimentos contrabandeei loucura
prisioneiro do conjunto e da razão,
passei, fingi e olhei para o lado
revoltado indigesto
indisposto de amargura e inaceitação.
Os actores sucederam-se, inconsistentes,
puxando o pano à vida e o protagonismo de ser, simplesmente ser...
Como nos olhos de uma menina
um dia, voltei a ver..
Dos seus olhos verdes saía música,
na força da sua revolta ouvia o bater do piano,
encontrei a âncora que não me permitia ir à deriva
dos ventos incompreensíveis,
das correntes fortes e sedutoras,
do feitiço que as sereias ofereciam
quando atraíam os perdidos do seu Norte
ao leito, por fim, já sem forças, da irrealidade e da morte.
Recuso-me a ser encaminhado,
escolhi as cem realidades da sorte
às quais me entreguei sem forças para mais
até ter ouvido a sua doce melodia...
Não mais pararei de pintar!
Os loucos riem-se alto e gritam de loucura, claro está,
Atrás do véu transparente que cobre a cama
E finge que esconde o amor que por lá se debate.
Que vive, se tiver de viver.
Que morre, se tiver de morrer.

Escrevo sem poder parar

Sou profeta, sou rei,
Sou estéril e cru,
Senhor de coisa nenhuma e de certezas encontro-me nú.
Acordem os viajantes e as dançarinas do ventre,
festejem-se os momentos na mais secreta altivez,
assombrem-se os coríntios que a guerra acordou,
e o fim do mastigar apressa-se a chegar.
Pertenço ao covil dos salteadores,
morada desconhecida de vilões e de galanteadores,
reconheço nos meus sentidos a leitura atabalhoada
e a aventura dos que amam sem saber como os seus amores,
o desassossego primitivo e o fogo tenso que agarra, que amarra,
e a surpresa que vê, surpreendida por observar.
Descubro a paz na mais incerta das inquietações
no cerrar da noite, debaixo dos candeeiros de bambú paralelos,
no acordar e no sentir da tristeza e do riso mudo
enquanto escrevo sem parar, sem pestanejar, sem ordem para parar!
As lágrimas e o sangue misturam-se nas palavras,
e na doce melodia que arrebata este momento
de vida em pleno fulgor
enquanto escrevo sem parar, sem pestanejar, sem ordem para parar!

Cortaste o teu cabelo...

Cortaste o cabelo.
Sorriste quando passei por ti.
Adivinhaste a côr do meu sorriso
por um segundo quase eterno.
As madeixas escuras escondiam-te a testa
a espaços de luz e de sombra
e o calor cru-avermelhado
preenchia-te quase na totalidade as maçãs do rosto.
Os sonhos, esses, eram da côr dos olhos
que acriançadamente me abraçavam
e a boca..., a boca era um ninho doce
quente e único, de contorno aveludado,
e espreitava o convite a juras de agora e para sempre.
Cresci e dancei dentro de mim
naquele segundo quase eterno...

Vilanagem

A fuga processa-se devagarinho.
O caminho difuso e ainda incerto
Da inocência primaveril
deu lugar à longa linha oblíqua
de ponto entre ponto,
o caminho mais longo,
que, após descerrada a porta,
não cessa o seu distanciamento.
Lentamente, a água foi ficando quente,
não aquecendo! – que isso seria perceptível
a qualquer cego mesmo de um só olho,
foi ficando quente, quente,
adocicada em banho-maria,
que assim o distraído não se arriba e a rã não foge...
Oh.. doce fim de tarde que não acaba...!
Prestas favores de arma alçada
Escondida pelos folhos da tua manga que aponta
E me diz onde sentar.
Não me deixas sangue nem voz,
Não me permites o alongar dos braços
E o desprezo pela saída fácil e atroz...
Reconheci-te mal te vi, o fio dos teus traços,
Vituperavam a força da minha vontade.
A inocência encarregou-se do resto, soprando,
Eternizando o que não deve ser eterno,
Mortificando o que não deve ser esquecido,
Prostrando a vilanagem, esse fartar de sorriso malandro.

Escreativar... Comentário para Allen Poe

Tem-se escrito, tem-se falado,
tem-se dito e encorajado
que os sons de dentro
muito nos assustam,
muito e todos os dias
apenas a nós nos custam.
A voz pela voz,
o ar que se engasga,
a cortesia ou o desaforo
do som quando rompe pela casca
emprestam ao aprendiz
a vida dissonante, aprimorada a dois tempos,
creditada sem rascunho
(que este perpetua o momento)
e sentida no Agora.
Assim se aprende
-pensa o aprendiz;
assim se "poema"
-grita o esófago poeta...


"Esplanando"...

Poupar papel.
O papel não se queixa, não se poupa,
não se encolhe no seu calor, não se vira sem saber porquê,
abusa-se com carinho!
As palavras não nos fogem ao raciocínio elementar,
grotesco na sua forma,
por vezes até algo rudimentar,
perfeito até ao âmago do seu conteúdo carnal.
Não. Não se riem de nós. Não se escondem debaixo de capuzes,
assustadas ou não.
E o rasgão das ideias não tem dobras
ou linhas de direcção.
Suspiro, papel meu, vê o marquês que me espreita,
contente, no seu cadeirão de pedra, altivo e imutável,
senhor de Pombal, centro de espirais,
e círculos acelerados, como sempre,
aqui sentados, tu e eu,
neste canto alugado da esplanada.
Dúvidas...
A Norte ou a Sul,
Onde repousa o olhar do meu mirone neste momento...?
A ignomínia da rotina
e os medos em surdina não me oferecem desencontro.
A táctica dos sentidos lógicos deu lugar ao uno,
espera-me pois a primeira decisão e o confronto.
Olá riqueza dos pormenores,
côr volátil dos olhos embriagados,
das formas e dos momentos menores... Bem-vinda a mim novamente!
Mas explica-me...
Porque sorri o miúdo graúdo do outro lado da vidraça da montra?...

Inquietação

Inquietação, inquietação
cruel inquietação,
inquietação, inquietação,
vil, agri-doce inquietação,
causa..., tudo,
causa,
casa,
tudo em minha casa,
de mim para mim,
tudo em causa,
casa sem causa,
casa e causa, por (talvez) causa e, afinal...
tudo em causa
ou cousa que causa e não casa.
Enlouqueço... e depois
Esqueço!
E dia novo se me apresenta
de mansinho, devagarinho,
cumprimento confiante o novo propósito radiante
apenas sem fé na sua estadia prolongada.
Será que enlouqueço?
Verdadeiramente louco
e depois me esqueço?
Sorrio por causa
da inquietação sem causa:
viverei inquieto por causa ou ...
sou, sem compreender, inquieto para ser?...
Ainda bem que enlouqueço,
por príncipio e aceitação do agora,
e escrevo por causa (e só para escrever!)
ou não haveria por onde fazer sair esta inquietação, inquietação...!

Lembro-me do Porto

As ruas eram tão longas,
As minhas pernas tão pequenas..
Revivo saudoso os muros gigantescos ao fundo da rua,
escorregadios e inultrapassáveis,
que aprendi, à custa dos meus minúsculos joelhos,
a conquistar.
E o cheiro a ar húmido-quente
nas noites frias de Inverno,
cachecóis compridos e bóinas submundistas,
paisagens de gabardines compridas flutuavam rente ao chão;
e os edifícios lúgubres e rendilhados afagados por ruas de luz ténue,
de roupagens côr de pedra escura, confortável ao toque,
companheiros gigantes e silenciosos da melancolia mal-interpretada.
Às vezes lembro-me da Avenida,
arena de correrias e habilidades,
conversas do mundo e encontros suspeitos sem veleidades,
com as suas faces e figuras alegóricas esculpidas ao alto
guardas mudos do que se passava todos os dias lá em baixo,
espreitando sorrateiramente os transeuntes
da beirada dos seus postos de cinco e seis andares.
E os candeeiros solitários que davam a sensação de falarem,
penteados de amarelo-torrado, que me sossegavam,
quando por ali passava sozinho.
E recordo, ainda hoje,
a chuva, que não me cansa,
que me sussurrava, indiferente ao burburinho,
-Vem, corre através dos meus braços e dança!

Certo de que um dia...

Se um dia eu morresse
Queria ver pratos com salgadinhos em cima do caixão
E serpentinas verdes e amarelas penduradas no portão.
Cadeiras de plástico azuis, mesas de desmontar
E copos descartáveis de festa que não se pudessem voltar a usar.
Garrafas, garrafões, minis e canções,
Sorrisos em coro e, por vezes, grandes gargalhadas sem decoro.
Música folclórica e bailes de cem pessoas,
E rapazes e raparigas sem medo de se convidarem para conversas e noites boas.
Um padre de saias compridas e óculos no fundo do nariz
Bêbado mas sorridente, e um coveiro com uma tenda de bebidas à base de aniz.
Os putos descalços, de bola no pé, aproveitando o que restar da relva
E sevilhanas de matracas na mão e dançarinos exóticos de Huelva.
Ciganos em correria, calças e camisas de desconto na mão,
Churrascos e assados de feira e uma banda filarmónica de coreto... porque não?!

Não se chama loucura...

Lunático, eu?!
Lunáticos os que não acreditam
Nas façanhas e promessas
Dos seus super-heróis privados com capa,
Sinais inequívocos da sua loucura deserdada,
Sem sentir a imensidão bruta de olhar nos espelhos dos corredores
E ver, ainda, no centro das suas vontades
O miúdo de boné que assalta as dúvidas
Dos momentos mais sensatos...
Provavelmente, por falta de Invernos seguidos de grandes Primaveras
Vividas, com receio, é certo,
Na companhia do boné...
Pra lá das portas do hospício,
A loucura prolifera escondida nas gavetas de cada um.
Talvez, na loucura dessa transparência,
Quando a água se agita,
Se construam castelos, pé ante pé...

Por vezes... Imagino um desenho

Por vezes... Imagino um desenho.
É grande e colorido
Como um jardim habitado aos domingos.
Um jardim relvado com lagos e cascatas,
Flores de alegria insuspeita,
Sombras ali poisadas com carinho
E moinhos... sim, grandes moinhos!
Imagino-o fluído, encosta a descer,
Suspiro e mergulho,
Rebolo, vida e amor a nascer,
Viro-me e sorrio
Com as maçãs do rosto encarnadas e os olhos muito abertos
E a surpresa própria de um garoto
Com o desejo de ficar mais um pouco,
Antes que o Sol se vá embora...

Lume

Corro perplexo, prometido das lendas
E dos tabus,
Das histórias da montanha desenhadas nas fendas
E dos preconceitos e certezas
De quem corre com os cotovelos nus.
Corro disperso,
Cortês para com a mente que trabalha,
Sozinha à luz da vela e ao som da navalha.
Não há voz nem melodia, apenas...
Um vociferar confortável que me chega da esquerda,
Junto à janela.
Cerveja e mortalhas...
E o fumo diletante que foge para aquela esquerda.
Enquanto Waits berra baixinho,
O piano sossegado pela cortesia
E o branco desmaiado do cubículo
Sussurram... para não afectarem a cegueira
E o sorriso mudo de quem bate no teclado.
A cabeça tomba para trás
E para a frente
Ao ritmo infernal, quase abdominal,
Rasgando as entranhas do homem
Oferecendo o poeta que, agora,
Nada mais exige.
O formigueiro das aventuras de papel
Espreita, curioso, as escalas intermináveis
Dos dedos que não se cansam,
Das ideias que não amansam.. e fogem,
Debaixo dos olhares turvos,
Pelo buraco da fechadura da porta da rua.
Corro imerso, disperso, perplexo,
Afogado no caudal da minha droga perfeita:
O bater de mim próprio
Que enche e quase rebenta..
Força Tom, dá-me lume!!

O dia seguinte

Suprimo as vontades e o egoísmo
por uma internacionalização de mim mesmo,
obrigo-me à emigração ilegal
e à navegação para lá da intersecção dos mundos
onde o mar se eleva, desconfiado,
assustado,
talvez pela ousadia da intrusão,
talvez por outra razão,
não estivesse eu a rasgar as correntes cartografadas
e a segurar, sem torcer, a porrada oferecida pelas ondas.
O Novo Mundo tinha praias quentes
e realidades diferentes
quando o pisei pela primeira vez.
As palmeiras ainda pequeninas
e os rochedos em bruto,
os botões de rosas vivas fechados,
a floresta virgem e as enseadas inexploradas
Prometiam e assustavam simultaneamente...

Explosão de dentro

És uma estrela cadente e fluis através do meu sangue...
vives -te e revês-te no desenrolar do teu caminho
com a força, as lágrimas
e o grito mudo que explode, todos os dias,
apenas um bocadinho, todos os dias,
com a explosão ensurdecedora de um incêndio encurralado.
Bruto, afiado, empresta-me murros
fogo de outros mundos,
espanca-me por uma boa razão,
expulsa o outro de dentro de mim e vive-me
só a mim, pela primeira vez... outra vez...
Incendeia-me o peito
com a paz de espírito necessária
que sempre me acreditou chegar mais longe.
 
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