24/07/08

CLICK!!!

Agarro-me ao que me levanta o olhar,
nessa dança egoísta e impaciente
dos corpos que não se entregam.
Aventure-se no caminho
o sol dos duros lá da rua
e as sombras incólumes e anónimas
que pensam conseguir usar.
O sorriso desconfiado
do velho no banco de jardim,
às quatro da tarde, hora de calor,
imposto por um aceno intrusivo,
demasiado adentro para o habitual,
e a fotografia à espera.
A carapaça não salta, segura-se à espreita,
enquanto o cigarro vai queimando de mansinho
cúmplice da trama que vai sendo feita
estende-se a rede devagarinho,
e a fotografia à espera.
Enganam-se os minutos com frivolidades
e desatenção
no banco oposto ao meu fetiche sufocado.
O peixe ri, eu rio,
o peixe olha, eu desvio,
santo deus, que loucura, desvario,
e a fotografia à espera...
Da coragem para investir e perguntar
vão seis metros de passo largo
e assertividade no andar!...
Qual sorriso, qual simpatia,
é uma montanha sem empatia,
uma parede de ferro e de betão
e eu de cócoras e entravado
enquanto m’atiram um rotundo não!
E a fotografia que desespera...
Agradecido por cortesia,
educada e atempadamente,
afasto-me nariz baixo no Rossio.
Não sou capaz!
A comichão aperta cem metros à frente
e, embalado na minha tentação,
arranco sem pudor e volto para trás.
Eis-me, suspeito, escondido por uma trave,
Criminoso sem respeito,
Fuínha dos piores, sem covil nem irmandade.
Haja quem me denuncie,
aqui de joelhos,
e aos céus brade!
Mas o plano congemina-se ao estado de perfeição,
gélido e glorioso, a expressão à disposição;
o feitiço finda-se e assassina de vez esta tensão...
CLICK!!!
E a fotografia que saiu bera...!

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