24/11/08

Ich spreche keine Deutsch.
(Näo falo nada de alemäo - näo traduzido exactamente à letra).
Frase extremamente útil. No seio de qualquer povo latino, uma frase como esta "eu näo falo espanhol nenhum..." ou "eu näo falo nada de francês..." ou talvez "eu näo compreendo italiano..." dita na língua nativa, aplicada no momento certo, significa simultaneamente um pedido de ajuda e uma tentativa explícita de integracäo, de estabelecer contacto, de jogar segundo as regras do outro, no campo do outro. E provoca, näo raras vezes, uma aproximacäo do receptor ao nosso pequeno universo, agora desmascarado, diria mesmo escancarado, transformando esse mesmo receptor num emissor instantâneo, pleno de disponibilidade e vontade até. Um nadador-salvador. No seio de qualquer povo latino... Aqui, em Munique, a conversa é outra. A disponibilidade e a vontade säo substituídas, sem maldade ou qualquer vestígio de pena, pelo "status quo" sempre presente da comunicacäo incisiva e necessária, apenas necessária, da convergência dos pontos sem curvas, da precisäo rectilínea com que se chega do acontecimento A ao acontecimento B.
Estou num café. Café de bairro. Com uma esplanada ampla de madeira e bancos corridos que juntam as pequenas mesas num desenho semelhante ao de um arquipélago com as suas ilhas no mapa.
É curioso constatar que em várias esplanadas e restaurantes as mesas separadas por um pequeno fosso quase germânico sejam, por sua vez, aglutinadas, umas às outras, por bancos corridos que atravessam a sala. Dir-se-ia que a arquitectura do espaco promove a proximidade, a comunhäo natural e a desburocratizacäo das conversas. Nada mais errado. Ao fim de alguns dias, apercebo-me do propósito lógico existente nesta simples configuracäo do espaco público. O objectivo näo é, como seria de esperar num país como Espanha ou Portugal, o de aproximar as pessoas e encurtar as distâncias mas sim aproveitar utilitariamente o espaco e retirar o máximo, de forma ordeira e planeada, do mesmo. Experimentem um dia, uma Quarta-feira por exemplo, dia de trabalho e movimento típico, sentar-se numa qualquer mesa de esplanada, uma qualquer, aleatoriamente. Em seguida, procurem estabelecer contacto com o olhar. Percorram as várias mesas ao vosso redor, as várias pessoas com o vosso olhar. É possível que se sintam sentados frente a frente com uma imensa parede de betäo, com uma comunicacäo täo inexistente como no supermercado ou nas carruagens cheias do metro à passagem por Hauptbanhof, centro do burburinho sem barulho onde a azáfama silenciosa dos transeuntes se assemelha a um ninho de formigas em construcäo.
A esfera pública das ilhas privadas.
Näo me parece, porém, que a frieza seja a razäo. Noto uma certa necessidade de contacto camuflada por um planeamento cultural do dia-a-dia. As criancas, sobretudo elas, arregalam os olhos da mesma forma curiosa e impulsiva que acontece em qualquer parte do mundo. Frias, só mesmo as minhas mäos por estar sentado nesta esplanada há duas horas. Tempo perdido...? Nem por isso! Mas algo cansado, sim. Näo é facil isto de estar permanentemente a jogar xadrez com Freud. Vou para casa, lar adoptado, almocar as minhas lentilhas com pimento e batata cozida.
- Ich möchte bitte bezahlen. (Gostaria de pagar, por favor)
Para näo variar, o sorriso do outro ficou em casa.
Cachecol favorito ao pescoco e vamos às lentilhas.

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