16/11/08

27 de Outubro do ano de 2008

Terminou a minha aventura em terras francesas. Hora do adeus. A st. Pierre Cherignat, pelo menos. Foram cerca de seis semanas de risos, trocas, tristezas, aprendizagens mútuas e trabalho, muito trabalho. Na apanha da fruta, com os seus cestos de vinte kilos de macas, no trabalhar das relacöes humanas, no aprender a comunicar na língua nativa e no abrir das minhas fronteiras pessoais. A natureza acolheu-me duma forma que eu pensava inimaginável e, de certa forma, também eu a recebi bem dentro de mim.
Desde o acordar com o Sol, o cozinhar à fogueira, o trabalhar com os dedos gelados a pedirem mais tenda, o partilhar destas tarefas e das emocöes, o deitar quando o próprio Sol se deita, o adormecer ao som do chamamento de acasalamento dos alces, as remadas matinais na canoa... Tudo se desenrolou fluidamente ao ritmo da pulsacäo viva. Tanto à vista desarmada e tanto mais por detrás das palavras que posso aqui perspegar.
Vou sentir saudades do casal holandês e da sua "quinta" onde, dia sim dia näo, ia de manhazinha buscar o leite acabado de sair das tetas duma das vaquinhas e o queijo que eles próprios produziam em casa.
Entreguei-me de corpo, alma, e sobretudo bracos, a todas as tarefas que surgiam. Rachei a lenha para o fogäo que nos aquece e alimenta durante as noites já frias de Outono. Tanta lenha, tanta madeira forte, tantos veios, tantos nós... Fiquei agradavelmente surpreendido com a facilidade com que as minhas mäos se adaptam à labuta diária do campo rural. O machado era eu e eu era furiosamente o machado! E o ar frio no meu nariz fazia-me querer mais... E mais!
Mungi vacas que tinham nome, aprendi como tratar o tabaco desde a apanha ate ao fumo viciante. Ajudei a fixar uma cama de madeira numa carrinha mágica de viagem. Comi vegetais da nossa horta e li o desassossego em sossego. Visitei três vezes a casinha todos os dias. O equilíbrio manifestava-se. Esqueci a carne e o peixe e descobri a beterraba, a corgete(?) e o chapati (päo indiano).
Esqueci a água canalizada e a forca eléctrica e descobri o barril de água gelada para banho e afins e a fogueira de lenha difícil, ainda molhada.
Parece campismo... Mas é de um gosto selvagem.

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