28/11/08

Os sonhos (näo os desejos, do que gostaríamos de fazer) e o fumo das velas entrelacam-se num remoinhar austríaco de imagens passadas e histórias de outras vidas, das vidas que vou encontrando pelo meu caminho. Vidas que acontecem mesmo. E que me säo contadas cara a cara, presenteando-as com um argumento nada trivial e muito pouco côr-de-rosa. Cada olhar, cada gesto tem um significado, cada palavra dita uma forca e uma razäo de existir no complexo jogo do conhecimento e da comunicacäo, de chegar a...
Estou em viagem, apesar de estar aqui sentado no sofá onde durmo. "Couchsurfing" no sofá de Stefan, um austríaco de quarenta e quatro anos de idade, dotado de uma sensibilidade fora do comum nestas paragens.
A sala é um monumento, um museu que exibe todos os dias as mágoas de um homem só, divorciado, que sente falta dos seus três filhos. Daniel, Tobias e Sofia, a mais nova. Daniel está agora a dar os primeiros passos no caminho irregular da puberdade. Stefan raramente tem hipótese de o acompanhar. Tobias e Sofia säo mais novos, dotados de uma inteligência rara e de uma curiosidade ímpar, sempre presente na sua forma de olhar e experimentar. E, muito embora se sinta nas palavras de Stefan e nos seus olhos essa mesma mágoa, o seu sorriso de adulto com voz de crianca, de austríaco austero com uma amabilidade inesperada, leva-nos a esquecer tristezas e a sorrir, conversando seriamente ao som de Frank Zappa. E como eu gostei de Frank Zappa. Pensar que esteve à mäo de semear toda a minha vida. As fronteiras abrem-se quando rompemos o cordäo e abolimos as defesas do nosso quintal.

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